Estelionatários se passam por proprietários de imóveis para lesar inquilinos
O anúncio publicado classifica como “lindo” o apartamento disponível para locação no bairro Jardim Botânico, em Porto Alegre. Com a possibilidade de negociar diretamente com o proprietário, futuros inquilinos se interessam pelo imóvel e pagam adiantado o valor equivalente a três aluguéis. Quando vão ao local para acertar os detalhes para a mudança, descobrem que caíram em um golpe.
Pelo menos duas pessoas foram enganadas por um estelionatário que se passou pelo dono de um apartamento para alugar localizado na Rua Doutor Salvador França. A produtora cultural Dóris Couto, 47 anos, foi uma delas. Na tentativa de morar em lugar mais seguro, ela ligou para o celular anunciado. Falou com um homem que prontamente a atendeu e deu detalhes sobre imóvel. A visita foi acompanhada por uma mulher, que se apresentou como representante do golpista.
Contente com o que encontrou, Dóris, que reside em um apartamento com contrato formalizado diretamente com o proprietário, quis logo fechar o negócio. O aluguel mensal de R$ 1 mil deveria ser antecipado em três meses como garantia.
“Paguei na segunda-feira e fui ao apartamento à noite ver o que precisava arrumar para a mudança. No outro dia, havia cartazes da imobiliária e estavam trocando o miolo da chave. Fui à imobiliária para saber quem tinha pegado as chaves e lá me avisaram que outra mulher havia passado pela mesma situação e estava na delegacia registrando o caso”, relembra.
A outra vítima é a chefe de cozinha Laureci Batista Marcelo, 58 anos. Desesperada ao presenciar um chaveiro contratado pela Imobiliária Menino Deus trocando o miolo da fechadura, Laureci correu para a delegacia. Ela já havia desmontado guarda-roupa e encaixotado os pertences para a mudança prevista para terça-feira. Com a chefe de cozinha, a dupla de estelionatários acertou um aluguel mensal de R$ 800, com adiantamento de R$ 2,4 mil. Nem mesmo a rapidez do negócio fez ela desconfiar.
“Visitei duas vezes no domingo, uma com meu marido. Uma mulher acompanhou, disse que era irmã do homem que atendeu o celular e que ela era a responsável por nos mostrar (o apartamento)”, disse Laureci, que tem um imóvel próprio e o aluga sem intermédio de imobiliárias.
Moradora de Porto Alegue há quase 15 anos, Dóris também não vê problema em locar diretamente com os donos do imóvel.
“Já fiz contrato diretamente com o proprietário e não deu problema nenhum. Queria me mudar pelo medo dos assaltos que sofri, agora não quero me mudar nunca mais”, diz.
Gerente de locação da imobiliária Menino Deus, Alexandre Santos da Silva, diz que foi avisado pelo síndico de que várias pessoas teriam visitado o apartamento anunciado pela empresa no domingo, dia em que não há expediente.
“Desconfiei porque não trabalhamos no domingo. Na terça-feira, contratamos o chaveiro para trocar o segredo”, explica Silva, que registrou ocorrência do caso ontem.
No cadastro da imobiliária para liberação das chaves aos interessados, feito com um documento oficial, ficou o registro de uma pessoa que foi à empresa na quinta-feira da semana passada e pode ser o golpista. Conforme o gerente, os dados foram repassados à polícia.
Criminosos fizeram pelo menos 14 vítimas na Capital
Conhecido pela polícia, mas pouco adotado nos últimos anos, o golpe do aluguel tem feito novas vítimas na Capital. De acordo com o delegado Paulo Cesar Jardim, 12 casos geraram a abertura de inquéritos na 1ª Delegacia da Polícia Civil, na região central da Capital. Os golpistas já foram identificados, e a polícia procura mais testemunhas para fazerem o reconhecimento por foto dos suspeitos.
“A forma de agir é a mesma e a descrição das vítimas também. Estamos trabalhando para pedir a prisão cautelar e tirá-los de circulação”, afirmou o delegado.
Titular da 1ª DP, Jardim deve entrar ainda nesta semana em contato com as outras delegacias de Porto Alegre, onde os casos de Dóris e Laureci foram registrados. A intenção é unir os inquéritos para reforçar a necessidade da prisão dos suspeitos.
“Por causa da necessidade de alugar um imóvel, as pessoas não argumentam muito e caem no golpe. Muitas vêm do Interior e mandam o dinheiro sem nem vir para a Capital”, afirma Jardim.
O delegado Francisco Antoniuk, titular da 11ª DP, que ouviu o depoimento da Dóris, diz que o crime de estelionato prevê de um a cinco anos de reclusão.
“Quando a oportunidade é tão boa, tem de desconfiar”, alerta Antoniuk.
Preste atenção!
1) Uma das precauções para não cair no golpe do aluguel é procurar o registro de imóveis para consultar a matrícula e descobrir o nome do proprietário. A informação é pública e é fornecida na hora. Você pode conferir pela internet a zona da cidade onde está o registro do imóvel.
2) Você também pode pedir a matrícula do imóvel e o documento de identidade ao proprietário. Se ele realmente estiver interessado em alugar o imóvel, não deverá se ofender com o pedido.
3) Converse com outros moradores do prédio, principalmente com o síndico, para saber informações sobre o dono do imóvel.
4) Detalhes como erros de português no contrato também podem indicar a possibilidade de golpe.
Não esqueça que o contrato é necessário e deve ser assinado e reconhecido em cartório.
Se preferir, procure uma imobiliária credenciada.
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