Alugar ou comprar? Eis a questão!
Na ponta do lápis, a locação vale mais a pena. Mas há muitas outras variáveis nesta questão.
O sonho da casa própria, para morar ou investimento, sempre teve muita força. Na História, as guerras consistiam na conquista de novos territórios, por poder, conforto ou exploração. Depois, na mesma linha, a ideia da propriedade imobiliária passou a significar riqueza e estabilidade. Mas os tempos são outros.
Algumas mudanças sociais como jovens desprendidos de endereços fixos e relações de trabalho à distância levam novos compradores a se perguntarem se não seria melhor pôr este dinheiro em uma aplicação. A resposta é simples: depende...
Para o professor de Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV), Sergio Bessa, aplicar em um fundo tem maior retorno:
— O imóvel como investimento não é vantajoso porque não valoriza tanto e perde-se muita liquidez — afirma.
A conta para saber se vale mais a pena comprar para pôr para alugar ou aplicar, segundo ele, é comparar o rendimento de aplicação ao valor do aluguel. Ele exemplifica com a quantia de R$ 500 mil: em uma aplicação moderada de renda fixa, por exemplo, este valor vai render cerca de 0,8% ao mês, o que significa R$ 4 mil ao mês. Já para um aluguel, o ganho mensal seria em torno de R$ 2.500. Dentro deste valor, ainda deve-se considerar a eventual vacância e taxas como IPTU e condomínio quando não houver inquilino.
— Do ponto de vista financeiro, vale que ver o que rende mais. Mas, claro, é preciso que considerar também o prazer pessoal de se ter um imóvel próprio — pondera o professor, ressaltando a questão do valor imaterial.
No caso de alguém que ainda não juntou o suficiente para a compra do primeiro imóvel, Bessa reforça que vale mais (do ângulo financeiro) aplicar o dinheiro em um rendimento.
Outro adendo é que, no caso das ações, o risco é maior, tanto para ganho quanto perda. Entre os rendimentos fixos, ele explica que o morador pode checar no Tesouro Direto, CDB ou verificar em seu banco qual o rendimento médio.
Valor nem sempre é preço
O professor em Finanças do Ibmec, Gilberto Braga, concorda que em termos financeiros a matemática favorece os investimentos sobre o aluguel. Entretanto, ressalta outras variáveis.
— Agora, a conta não considera eventuais acontecimentos que podem ocorrer ao longo de uma vida, como a valorização imobiliária. Em casos assim, o valor do aluguel ou prestação superam o que se ganharia hoje com rentabilidade — diz ele, exemplificando a Barra da Tijuca onde, há 30 anos, os imóveis custavam muito menos que hoje. — Por isso é bom comprar em um local com expectativa de crescimento.
Outro conselho é considerar futuros percalços negativos, como desemprego ou problemas de saúde, em que, do ponto de vista comportamental e psicológico, o imóvel é visto como uma segurança para família.
— E há a questão da herança para os filhos. É mais difícil se desfazer de um imóvel. Um ato que implica a concordância de todos. Já as aplicações podem ser diluídas sem tantas regras.
Perfis diferentes
O professor de contabilidade do Centro Universitário Celso Lisboa, Alexander Araújo, acrescenta que, ao escolher entre viver de aluguel e pôr o dinheiro em investimentos, ou comprar um imóvel, há outras variantes. Para ele, isso depende muito do perfil do comprador.
— O jovem de hoje é muito nômade. Ele pode mudar de cidade em busca de novas oportunidades, ou pensar que se fixar em um lugar não é boa ideia. Ele pode usar o dinheiro para investimentos vão render mais adiante. Outro cenário é o comprador já mais velho, que tem algum dinheiro disponível e pode usufruir deste imóvel.
Araújo pondera que a renda fixa tem uma rentabilidade estável, porém o imóvel pode ter um retorno maior e mais rápido, dependo de variáveis como localização e demanda, o que aumentam a sua valorização. No Rio, ele destaca que isso é bem comum.
— O morador também precisa ter em mente que o mercado de imóveis tem uma peculiaridade que é a documentação com taxas elevadíssimas, como ITBI com taxa de 3% do valor do imóvel, além de condomínio e IPTU que pesam quando não tem inquilino. São muitas questões que precisam ser levadas em consideração.
Outro conceito que vale ser lembrado nesta conta de resgatar o dinheiro lá na frente é que, assim como um imóvel pode valorizar, outros seguem o fluxo e, na hora da troca, talvez não valham tanto.
Teste de casa
Na dúvida entre comprar ou alugar as centenas de unidades encalhadas no Rio, algumas construtoras criaram alternativas. Uma delas é justamente uma mistura dos dois mundos e oferece ao morador uma espécie de teste, em que ele mora no imóvel pagando aluguel e depois usa o valor pago nestes meses para a entrada na compra do mesmo.
Na Gafisa, o modelo vale para apartamentos de dois e três quartos no residencial Today, na Freguesia, com aluguéis em torno de R$ 3 mil. Após o “teste”, caso o morador decida fechar negócio, terá R$ 36 mil de desconto nos imóveis (que custam a partir de R$ 375 mil e R$ 405 mil, respectivamente).
— Muita gente diz que o aluguel é perda de dinheiro. Por isso, a nossa iniciativa promove um investimento nesse gasto mensal que eles já teriam de qualquer forma, revertendo em desconto na hora da compra. Além disso, a decisão de compra do imóvel, que é sempre difícil, fica muito mais assertiva, já que a família terá um ano para testar e decidir — explica Lucas Tarabori, diretor de vendas e marketing da Gafisa.
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